Cine Estudio Namibe

Cine Estudio Namibe
Cine Estudio Namibe

Em 1973, os proprietários do Cine-Moçâmedes, os Senhores Bauleth, Eurico e Gaspar, fazem uma encomenda ao Atelier Boper um projeto de um novo edifício de cinema para a cidade.

A sua implantação ocuparia um lugar crucial para o desenvolvimento do plano urbano, o qual não chega a concretizar-se devido a uma grande evasão demográfica aquando dos movimentos populares que antecedem a independência do país.
O cinema, por muitos apelidado como “a nave espacial”, encontra-se implantado sobre um terreno baldio, na intersecção da nova avenida para o novo aeroporto, que começa a ser construída em Janeiro de 1974, com a Av. Dona Amélia, a qual daria acesso a estrada para Porto Alexandre, a sul.
Encontrando-se entre a Rua Major Teixeira Pinto e a nova avenida, define uma importante charneira na cidade atual: a norte foi construído o novo edifício do Governo Provincial, a malha urbana colonial sofre alguns arranjos sem significantes alterações; a sul, desenvolve-se a cidade informal e inconformada.

Além da planta centralizada, também o cinema se encontra num “lugar central”, hoje enquadrado junto a baía e a Av. D. Amélia, a qual se assume hoje em dia como um eixo, ou limite, entre a cidade antiga e o musseque.
É por isso importante uma reflexão sobre o seu papel histórico e social para cidade no futuro.
Pela singularidade da sua forma e representando, nesta dissertação, o capítulo final do estudo evolutivo dos cinemas Angolanos, é aprofundado um olhar concreto sobre a sua arquitetura.
O Cine-Estúdio foi projetado como uma estrutura acoplada que continha, além do pro- grama de cineteatro, um restaurante e zona comercial num corpo à parte.

Os serviços, distribuídos em três pisos atrás da caixa de palco, garantem o acesso vertical do bar, cozinha, sanitários e camarotes dos artistas. A cabine ocupa o espaço anterior a plateia, no primeiro e segundo piso.
Sob a laje da cabine são inseridos o programa de bilheteira e bar, implementados na extensão das galerias laterais que se abraçam no espaço desperdiçado sob a pendente da plateia.

Além do Cine-Estúdio Namibe, a cidade contava com mais dois cinemas: o cineteatro de Moçâmedes e o cine-esplanada Impala. Gaspar Madeira, filho do Sr. Eurico, o qual encomenda o projeto a Botelho Pereira, afirma que “era do interesse das distribuidoras espalhar cá os filmes em cinemas diferentes”. Ao recordar as transformações urbanas que antecedem a construção do cinema, acrescenta:
“Angola sempre teve um desenvolvimento muito grande apesar da guerra, de- vido às indústrias: o café, o milho, a pesca... por isso foi necessário responder ao crescimento demográfico e tirar partido dele com a construção desses espaços de lazer para as pessoas que vinham cá procurar trabalho. Ora, com o aparecimento do porto industrial na proximidade da cidade, deu-se um rápido crescimento do Namibe e aí precisou-se de mais um cinema, está a ver? Vai daí que, quando surge o cine- estúdio, já nos anos setenta, este é pensado já com o propósito de ser implantado numa futura zona mais diplomática da cidade, tendo hoje o edifício do Governo Provincial na proximidade, cuja construção lhe foi posterior”.
Gaspar Madeira, 2016 [entrevista por AQ. cf. Anexo II]

Haveria, portanto, um plano urbanístico de embelezamento Avenida D. Amélia, ao qual o cinema serviria de referência urbana.
Relativamente aos planos de implantação da proposta de Pereira, destacam-se algumas diferenças consideráveis com a situação atual.
O “Supermercado ou Centro Comercial” seria um volume suspenso sobre uma via nova, o que permitiria uma área sombreada sobre os lugares de estacionamento.
As localizações dos acessos verticais ao mercado adivinham-se pelos corpos salientes nas extremidades da volumetria que ladeiam parcialmente o cinema.
Também no espaço envolvente se verifica o desenho de jardins e percursos, resultando, ao nível do conjunto da implantação, um cinema de tipo híbrido.
A conceção geral do edifício, parte do mesmo princípio que os cinemas de recinto como o Tropical, isto é, um cinema de tipo fechado e inserido num jardim.

O seu caso é verdadeiramente excecional porque não faz qualquer limite, o jardim constitui um espaço público, é um parque aberto à cidade.
No fundo, revela as mesmas intenções de um cine-esplanada, quer pela localização sobre a baía de Moçâmedes, quer pelo desenho do jardim e percursos que englobam o quarteirão, deixando a qualidade evocativa de “paisagem tropical” para se assumir no franco desenho do espaço público.
Ao nível da entrada, esta é anunciada por uma interrupção do ritmo dos elementos verticais que tecem uma versão do pórtico moderno em todo o perímetro do edifício.

Aqui, a repetição formal dos elementos estruturais que sustêm as vigas arqueadas que repousam nas fundações do edifício, sugere um módulo que é interrompido junto a entrada, diferenciando a dimensão do vão e da caixilharia.
O posicionamento simétrico das duas entra- das concentra no espaço intermédio a bilheteira, aberta ao exterior, e o programa distribui-se a partir de uma galeria que atravessa todo o perímetro da volumetria.

Explosão axonométrica: estrutura, fachada, programa interior.
Articulando a plasticidade moderna com o teatro clássico em planta, o arquiteto eleva a cota baixa da plateia e faz o acesso a partir de rampas laterais que ascendem ao palco se- guindo as curvas da plateia, cuja planta deriva uma vez mais da planta em ferradura.
Sob a laje da cabine concentram-se o programa de bilheteira e bar, implementados na extensão das galerias laterais.
O espaço inferior à caixa de palco concentra uma sala escura, na extensão dos corredores laterais, que permite o acesso aos sanitários e ao restaurante, distribuído verticalmente atrás do palco, juntamente com o programa de cozinha e camarins.

A estes, é-lhes acrescentada uma escada no extremo oposto, reservada a circulação vertical entre áreas técnicas.
O Cine-estúdio acaba por representar, neste trabalho, uma síntese do processo de evolução tipológica dos cinemas modernos.
Ao elevar o conceito do cine-esplanada à escala urbana, constituindo um parque público, e dando o jardim à cidade, o cinema e os jardins circundantes, mais o mercado, constituiriam um novo centro para a cidade de Moçâmedes, representada nos murais em alto relevo na entrada do cinema, onde se constata uma alusão aos pescadores e às praias do Namibe.
A estrutura revela, tal como nos cine-esplanadas de Belga, a mesma coerência plástica e organização liberal do programa sob uma intenção contemplativa da paisagem em seu redor.
Namiibe, AO

Localização








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